Para começar a falar de
poesia, nada melhor do que iniciar com este poema da poetisa portuguesa
Florbela Espanca.
Fanatismo
Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão de meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão de meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!
Não vejo nada assim enlouquecida…
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!
“Tudo no mundo é frágil, tudo passa…”
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
E, olhos postos em ti, vivo de rastros:
“Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!…”
“Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!…”
FLORBELA ESPANCA
REFLETINDO SOBRE O
TEXTO...
1. Em que gênero literário está
inserido esse texto?
2. Que características esse texto
apresenta?
3. Poema X Poesia. Existe diferença?
4. O que é eu-lírico?
5. O que é verso?
6. O que é estrofe?
7. Como se denominam as estrofes?
Poesia está em toda parte: nas canções de ninar, nas cantigas de roda, nas
propagandas, nas letras de música, em uma bela paisagem...
A poesia encontra seu núcleo no poema, feito e trabalhado precisamente para
consegui-la. Ela é indefinível, porém é definidora.
Poema é o gênero textual que se constrói não apenas com ideias e sentimentos, mas também por meio do emprego do verso e seus recursos musicais – a sonoridade e o ritmo das palavras –, da função poética da linguagem e de palavras com sentido conotativo.
Poesia é o subjetivo, o abstrato enquanto que poema é o concreto.
Veja, abaixo, um poema de Carlos Drummond de Andrade sobre o fazer
poético.
Poesia
Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto, ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida
inteira.
(Carlos
D de Andrade)
Eu-lírico (eu-poético)
É a voz que fala no
poema e nem sempre corresponde à do autor.
“O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras
sente.”
(Fernando Pessoa)
Observemos o lirismo dos versos abaixo, em que o eu-lírico exprime seus
sentimentos em face do mundo exterior.
“Fui
sempre um homem alegre.
Mas
depois que tu partiste,
Perdi
de todo a alegria:
Fiquei
triste, triste, triste.”
(Manuel Bandeira)
O eu-lírico pode aparecer na
forma feminina, mesmo o autor sendo do sexo masculino.
“(...)E tantas águas rolaram
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você
Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer(...)”
(Chico Buarque de Holanda)
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você
Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer(...)”
(Chico Buarque de Holanda)
Observe este poema de Manuel Bandeira, há uma classificação para cada
estrofe.
O bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Sextilha
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um
gato,
Terceto
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem! Monóstico
MÉTRICA é a medida ou quantidade de sílabas que um verso possui.
A divisão e a contagem das sílabas métricas de
um verso são chamadas de ESCANSÃO.
Essa contagem não é feita da mesma forma que a divisão e
contagem de sílabas normais.
DENOMINAÇÃO QUANTO AO NÚMERO DE SÍLABAS POÉTICAS
UMA
SÍLABA: Monossílabo
DUAS
SÍLABAS: Dissílabos
TRÊS
SÍLABAS: Trissílabos
QUATRO
SÍLABAS: Tetrassílabos
CINCO
SÍLABAS: Pentassílabos ou
Redondilha menor
SEIS
SÍLABAS: Hexassílabo
SETE
SÍLABAS: Heptassílabo ou
Redondilha maior
OITO
SÍLABAS: Octossílabos
NOVE
SÍLABAS: Eneassílabos ou
Jâmbicos
DEZ
SÍLABAS: Decassílabos ou
Heróicos
ONZE
SÍLABAS: Hendecassílabos
DOZE
SÍLABAS: Dodecassílabos ou
Alexandrinos
MAIS
DE DOZE SÍLABAS: Bárbaros
RITMO
Resulta da regular sucessão de sílabas
átonas ou fracas e de sílabas tônicas ou fortes.
Os acentos tônicos, ou as sílabas tônicas, devem repetir-se com intervalos regulares, de
modo a cadenciar o verso e torná-lo melodioso.
Observe o ritmo nas
estrofes a seguir, sempre na 2ª sílaba poética.
“Quem dera
Que sintas
as dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
- Não negues,
Não mintas...
Eu vi!...”
(Casimiro de Abreu)
Agora observe estes versos que apresentam acentuação na 3ª, na 6ª e na 9ª
sílabas.
“Contemplando o teu vulto sagrado,
Compreendemos o nosso dever;
E o Brasil, por seus filhos amado,
Poderoso e feliz há de ser.”
(Hino à Bandeira – Olavo Bilac)
RIMA
São coincidências sonoras que podem
ocorrer em qualquer lugar dos versos, dependendo da escolha do poeta.
QUANTO A TERMINAÇÃO DO SOM
1) PERFEITAS:
sereno e moreno; neve e leve
2) IMPERFEITAS:
Deus e céus; estrela e vela
QUANTO À TONICIDADE
1) AGUDAS
(oxítonas)
feroz e atroz; amor e clamor
2) GRAVES
(paroxítonas)
festa e manifesta; flores e cores
3) ESDRÚXULAS
(proparoxítonas)
mágico e trágico; lírico e onírico
QUANTO AO VOCABULÁRIO
POBRES
Mesma
classe gramatical
Ex: Coração
e oração
RICAS
Classe
gramatical diferente
Ex: Prece e
adormece
RIMA INTERIOR
“Como são cheirosas as primeiras rosas” (A. de Guimarães)
“Donzela bela, que me inspira a lira
Um canto santo de fremente amor
Ao bardo o cardo da tremenda senda
Estanca arranca-lhe a terrível dor.”
(Castro Alves)
DISPOSIÇÃO DAS RIMAS
NAS ESTROFES
RIMAS EMPARELHADAS (AABB)
“Ele
deixava atrás tanta recordação! A
E o
pesar, a saudade, até no próprio chão, A
Debaixo
dos seus pés, parece que que gemia, B
Levanta-se
o sol, vinha rompendo o dia(...)” B
(A. de Oliveira)
(B.
RIMAS ALTERNADAS (ABAB)
“Tu és um
beijo materno! A
Tu és um
riso infantil, B
Sol entre
as flores de inverno, A
Rosa
entre as flores de abril! ” B
( J. de Deus)
RIMAS INTERPOLADAS
OU OPOSTAS (ABBA)
“
Saudade! Olhar de minha mãe rezando A
E
o pranto lento deslizando em fio... B
Saudade! Amor d minha terra... O rio B
Cantigas de águas claras soluçando.
“ A
(Costa e Silva)
VERSOS BRANCOS
São os versos sem rima.
Envelhecer
Antes, todos os caminhos iam.
Agora todos os caminhos vêm.
A casa é acolhedora, os livros poucos.
E eu mesmo preparo o chá para os fantasmas.
(Mário Quintana
VERSO LIVRE
São os versos que não obedecem aos preceitos da versificação tradicional, em
relação à métrica e ao ritmo.
Observe este
poema de Ferreira Gullar
Não há vagas
O preço do feijão
não cabe no poema. O
preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o
gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de
aço
e carvão
nas oficinas escuras
– porque o poema,
senhores,
Está fechado:
“não há vagas”
Só cabe no poema
O homem sem estômago
a mulher de nuvens
A fruta sem preço
O poema, senhores,
Não fede
nem cheira.
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