terça-feira, 3 de setembro de 2013

Gêneros Jornalísticos



Alguns Gêneros Jornalísticos

- A NOTÍCIA
O elemento fundamental de um jornal é a notícia. Essa caracteriza-se por ser um relato dos fatos sem comentários nem interpretação.
Há uma fórmula para a estrutura da notícia: Q – Q – Q – O – C – PQ (o quê, quem, quando, onde, como, por quê), embora não haja uma ordem predeterminada , pois essa é estabelecida pelas circunstâncias que envolvem cada notícia.
Esse gênero trabalha com informações e apresenta a função referencial ou informativa da linguagem. De acordo com o caráter da informação há um tipo especial de seqüências textuais.
 - Sequência narrativa: informação centrada numa mininarrativa, nessa o narrador tenta passar despercebido.
- Sequência descritiva: informação centrada na apresentação do estado do fato.
- Sequência explicativa: informação centrada na passagem de um conhecimento específico.
Veja:
Os oito presos que morreram asfixiados em Rio Piracibaca, no interior de Minas Gerais, foram enterrados na quinta-feira.
Dois corpos foram sepultados pela manhã; os parentes estavam emocionados.
Um incêndio destruiu a cadeia pública de Rio Piracicaba na terça-feira. A Polícia Civil admitiu que havia a necessidade de uma reforma no prédio. A corregedoria da corporação vai investigar se houve negligência do carcereiro, que na hora do incêndio estava na rua com a chave da cadeia.
Deputados da CPI do sistema carcerário vão nesta quinta-feira a Rio Piracicaba para apurar a morte dos presos.
"Tanto o Ministério Público quanto o poder Judiciário local, já tinham tomado providência, inclusive já tinham interditado aquela delegacia porque havia instalações hidráulicas e elétricas inadequadas e o prédio era velho”, afirmou o relator da CPI, deputado Domingos Dutra (PT-MA).
“Essa cadeia existe há bastante tempo, e nós estamos tratando da reestruturação dessa cadeia e também da construção regional. Nós estamos fazendo a nossa parte”, respondeu o chefe da Polícia Civil no estado, Marco Monteiro Castro.

- EDITORIAL
O editorial é um tipo de texto no qual o autor exprime o parecer do jornal acerca de determinado fato. É um texto dissertativo que tem como finalidade propagar a ideia da empresa. Apresenta idéias que evidenciam o ponto de vista escolhido pelo jornal a respeito da matéria em evidência.
Veja:
O material que faz a diferença
Janeiro é o mês especialmente dedicado à escola.
Neste início, múltiplas atividades focalizam a arrumação, manutenção e organização do prédio, o planejamento curricular dos professores e das equipes técnicas, a realização de cursos e de seminários de atualização dos docentes, reuniões com funcionários e todo um elenco de ações que envolvem naturalmente a participação real das famílias dos estudantes.
Assim parece ser o cenário escolar das escolas públicas e privadas. E nem poderia ser diferente, num País que precisa se comprometer eticamente com a educação das crianças e dos adolescentes.
Mas, dentre as despesas de consumo escolar das famílias, destaque-se o item material escolar, a ser usado pelos estudantes durante o ano letivo.
Nessa despesa obrigatória, encontra-se uma considerável lista de livros-textos das diferentes disciplinas, livros de leituras complementares também das disciplinas, cadernos, lápis e canetas, que devem ser adquirida à vista ou a crédito, com ou sem desconto. Nesse processo, o estudante se assume como consumidor de um material que interfere financeiramente na renda familiar.
Essa lista já faz uma primeira diferença entre a escola pública e a particular, apesar da distribuição aparentemente gratuita dos livros didáticos inseridos nos programas educacionais do MEC. O ministério, por sinal, estabelece a devolução dos livros para serem reutilizados por alunos das séries subsequentes.
A segunda diferença consiste concretamente na utilização desse material pelos professores e pelos estudantes, o que nem sempre acontece.
E uma terceira diferença diz respeito à qualidade gráfica do livro, que rapidamente se deteriora por meio de páginas que se soltam ou se perdem nas pesadas mochilas dos estudantes.
O problema dessas listas de material escolar tem origem na participação pedagógica do professor, que, individualmente ou em grupos interdisciplinares, orienta a compra do material de acordo com os objetivos e metodologias de sua disciplina, no bojo de um planejamento que não se adapta mais a uma visão unidisciplinar, isto é, de disciplinas isoladas, por não levarem a uma visão de contexto em que a transdisciplinaridade permite que se trabalhe o conhecimento cotidiano dos estudantes sob diversos ângulos de reflexão.
Do outro lado do problema das listas, estão os bolsos das famílias que já têm outras despesas escolares, se a escola for particular.
Tais despesas repercutem e pesam fortemente no orçamento familiar, mas que é suportado por garantir um possível bom ensino em função de uma preparação intelectual condizente com a modernidade.
Entre os objetivos pedagógicos dos professores e da escola e as despesas das famílias, concentram-se reclamações que devem ser vistas por todos.
Uma dessas reclamações é relativa ao excesso de material solicitado. Para as famílias, significa o consumo do supérfluo que onera em muito o orçamento doméstico.
Pode-se considerar um absurdo comprar um material que servirá apenas de ornamento numa sala de aula, principalmente se for considerado que muitas vezes as ações pedagógicas valorizam os exuberantes meios tecnológicos a serviço da didática e da metodologia e se esquecem ou ignoram as próprias finalidades da educação.
Considere-se, porém, o significado cultural da produção capitalista do material escolar usado no País, na relação das editoras com os autores dos livros. É uma relação que movimenta consideráveis somas de dinheiro, de direitos autorais, da escolha nacional dos professores que têm o privilégio de se tornar produtores desse material didático que abrange também o acervo das bibliotecas.
É preciso uma leitura questionadora e crítica do professor, objetivando a formação educacional e cultural do estudante.
Texto extraído do site do Jornal O Liberal - http://www.orm.com.br/oliberal/

- A crônica
A crônica é um relato de acontecimentos, fatos, do tempo de hoje, fatos do cotidiano. É uma seção de jornal ou revista, na qual são abordados acontecimentos do dia-a-dia. Em sua estrutura predomina uma seqüência de narrativas, com marcas subjetivas do produtor do texto.
Veja:
Quarto de badulaques (LVII)
O que é que prefeitos têm a ver com capitães de navios?
Parece que nada. Navios estão no mar, cidades estão na terra. Navios viajam, cidades não saem do lugar. Embora não pareça o fato é que as responsabilidades dos prefeitos são absolutamente idênticas às responsabilidades dos capitães de navio e seria sábio que os prefeitos tivessem capitães de navio aposentados como seus conselheiros.
A primeira obrigação de um capitão de navio é cuidar do navio... Estar atento às maquinas, ao radar, aos instrumentos de orientação, à cozinha, à limpeza, ao combustível, ao casco. Isso tudo, para navegar. Quem entra no navio quer viajar. O capitão do navio tem o dever de levar seus passageiros ao porto prometido. Caso contrário acontece como aconteceu com o Titanic.
A primeira obrigação dos prefeitos, à semelhança dos capitães de navio, é cuidar da cidade. Coleta de lixo, saúde, educação, cultura, finanças, água, construções, calçadas, jardins, energia, estradas, os pobres, os velhos, as crianças. Mas as cidades, embora pareçam fincadas no chão, navegam para um futuro. Cidades que não navegam são como navios encalhados, abandonados, enferrujados. Acabam por afundar. Para qual futuro?
 Essa questões me levam às perguntas que eu gostaria de fazer àqueles que se candidatam a capitães desse navio chamado Campinas. Apenas três. Três são o suficiente. 1. Qual é o futuro que o senhor sonha para Campinas? Para que porto o senhor levará a cidade, se for eleito? Quero que sua descrição seja tão viva que eu possa vê-la! 2. Quais as medidas imediatas a serem tomadas para se começar a navegar na direção desse futuro? 3. Quais os problemas prioritários do presente – as feridas da cidade - a serem atacados imediatamente? De que forma?
Rubem Alves. Texto extraído do site do autor (www.rubemalves.com.br)

EDITORIAL

O editorial é um tipo de texto utilizado na imprensa, especialmente em jornais e revistas, que tem por objetivo informar, mas sem obrigação de ser neutro, indiferente.
É comum se ter uma seção chamada Editorial na mídia impressa.
Então, a objetividade e imparcialidade não são características dessa tipologia textual, uma vez que o redator dispõe da opinião do jornal sobre o assunto narrado.
Logo, os acontecimentos são relatados sob a subjetividade do repórter, de modo que evidencie a posição da mídia, ou seja, do grupo que está por trás do canal de comunicação, uma vez que os editoriais não são assinados por ninguém.
Assim, podemos dizer que o editorial é um texto mais opinativo do que informativo.
O editorial possui um fato e uma opinião. O fato informa o que aconteceu e a opinião transmite a interpretação do que aconteceu.
Pelas características apontadas acima, podemos dizer que o editorial é um texto:

  • dissertativo, pois desenvolve argumentos baseados em uma ideia central;

  • crítico, já que expõe um ponto de vista;

  • informativo, porque relata um acontecimento.

O jornal que apresenta matérias excessivamente críticas e opinativas e que não possui um ambiente separado para editoriais é considerado “de opinião”!
Contudo, contrariando o fato do editorial levar em consideração a opinião do jornal como um todo, muitos editoriais de revista mostram apreciações feitas por autores que assinam o texto e muitas vezes até mostram o rosto em uma foto!           
Por se tratar de uma modalidade relacionada à linguagem escrita, o editorial é constituído de uma linguagem clara, objetiva e precisa, razão pela qual o emprego do padrão formal da linguagem é fator preponderante. Sendo assim, o gênero em questão obedece a uma estrutura convencional, retratada da seguinte forma:


  • NO PRIMEIRO E SEGUNDO PARÁGRAFOS apresenta-se a ideia principal a ser debatida, também denominada de síntese. 
  • Em seguida, tem-se o desenvolvimento, o qual constitui o corpo do editorial. Nele são apresentados os argumentos que fundamentam a ideia principal, de forma a convencer o interlocutor acerca da posição defendida.
  • NO ÚLTIMO PARÁGRAFO apresenta-se a conclusão, a qual se constitui da solução para o problema evidenciado, como pode também apenas conduzir o leitor a uma reflexão sobre o assunto em pauta.


ARTIGO DE OPINIÃO
Artigo de opinião: texto jornalístico que caracteriza-se por expor claramente a opinião do seu autor. Também chamado de matéria assinada ou coluna (quando substitui uma seção fixa do jornal).

As CARACTERÍSTICAS do artigo de opinião são:
  • Contém um título polêmico ou provocador.
  • Expõe uma ideia ou ponto de vista sobre determinado assunto.
  • Apresenta três partes: exposição, interpretação e opinião.
  • Utiliza verbos predominantemente no presente.
  • Utiliza linguagem objetiva (3ª pessoa) ou subjetiva (1ª pessoa).

PROCEDIMENTOS ARGUMENTATIVOS DE UM ARTIGO DE OPINIÃO:

  • Relações de causa e consequência.
  • Comparações entre épocas e lugares.
  • Retrocesso por meio da narração de um fato.
  • Antecipação de uma possível crítica do leitor, construindo antecipadamente os contra-argumentos.
  • Estabelecimento de interlocução com o leitor.
  • Produção de afirmações radicais, de efeito.

EXEMPLO  DE  ARTIGO DE OPINIÃO:

BALEIAS NÃO ME EMOCIONAM,  DE LYA LUFT.
    Hoje quero falar de gente e bichos. De notícias que frequentemente aparecem sobre baleias encalhadas e pinguins perdidos em alguma praia. Não sei se me aborrece ou me inquieta ver tantas pessoas acorrendo, torcendo, chorando, porque uma baleia morre encalhada. Mas certamente não me emociona. Sei que não vão me achar muito simpática, mas eu não sou sempre simpática. Aliás, se não gosto de grosseria nem de vulgaridade, também desconfio dos eternos bonzinhos, dos politicamente corretos, dos sempre sorridentes ou gentis. Prefiro o olho no olho, a clareza e a sinceridade – desde que não machuque só pelo prazer de magoar ou por ressentimento. Não gosto de ver bicho sofrendo: sempre curti animais, fui criada com eles. Na casa onde nasci e cresci, tive até uma coruja, chamada, sabe Deus por quê, Sebastião. Era branca, enorme, com aqueles olhos que reviravam. Fugiu da gaiola especialmente construída para ela, quase do tamanho de um pequeno quarto, e por muitos dias eu a procurei no topo das árvores, doída de saudade. Na ilha improvável que havia no mínimo lago do jardim que se estendia atrás da casa, viveu a certa altura da minha infância um casal de veadinhos, dos quais um também fugiu. O outro morreu pouco depois. Segundo o jardineiro, morreu de saudade do fujão – minha primeira visão infantil de um amor romeu-e-julieta. Tive uma gata chamada Adelaide, nome da personagem sofredora de uma novela de rádio que fazia suspirar minha avó, e que meu irmão pequeno matou (a gata), nunca entendi como – uma das primeiras tragédias de que tive conhecimento. De modo que animais fazem parte de minha história, com muitas aventuras, divertimento e alguma tristeza. Mas voltemos às baleias encalhadas: pessoas torcem as mãos, chegam máquinas variadas para içar os bichos, aplicam-se lençóis molhados, abrem-se manchetes em jornais e as televisões mostram tudo em horário nobre. O público, presente ou em casa, acompanha como se fosse alguém da família e, quando o fim chega, é lamentado quase com pêsames e oração. Confesso que não consigo me comover da mesma forma: pouca sensibilidade, uma alma de gelos nórdicos, quem sabe? Mesmo os que não me apreciam, não creiam nisso. Não é que eu ache que sofrimento de animal não valha a pena, a solidariedade, o dinheiro. Mas eu preferia que tudo isso fosse gasto com eles depois de não haver mais crianças enfiando a cara no vidro de meu carro para pedir trocados, adultos famintos dormindo em bancos de praça, famílias morando embaixo de pontes ou adolescentes morrendo drogados nas calçadas. Tenho certeza de que um mendigo morto na beira da praia causaria menos comoção do que uma baleia. Nenhum Greenpeace defensor de seres humanos se moveria. Nenhuma manchete seria estampada. Uma ambulância talvez levasse horas para chegar, o corpo coberto por um jornal, quem sabe uma vela acesa. Curiosidade, rostos virados, um sentimentozinho de culpa, possivelmente irritação: cadê as autoridades, ninguém toma providência? Diante de um morto humano, ou de um candidato a morto na calçada, a gente se protege com uma armadura. De modo que (perdão) vejo sem entusiasmo as campanhas em favor dos animais – pelo menos enquanto se deletarem tão facilmente homens e mulheres.
(Revista Veja, abril de 2005.)


Características da carta argumentativa:

  • Constitui um texto de natureza argumentativa, que tem por finalidade defender o ponto de vista do locutor e persuadir o interlocutor;
  • Apresenta formato constituído pelas seguintes partes: data, vocativo, corpo do texto (assunto), expressão cordial de despedida e assinatura;
  • O corpo é constituído por três partes essenciais: exposição do ponto de vista do autor (ou ideia principal); desenvolvimento (com argumentos) desse ponto de vista; conclusão;
  • Linguagem culta, formal, impessoal, clara e objetiva;
  • Verbos geralmente no presente do indicativo ou no imperativo;
  • Predomínio da 1ª ou 3ª pessoa.

                                  
                                    São Paulo 14 de agosto de 2000.


                      Prezados Senhores


  Uns amigos me falaram que os senhores estão para destruir 45 mil pares de tênis falsificados com a marca Nike e que, para esse fim, uma máquina especial já teria até sido adquirida. A razão desta cartinha é um pedido. Um pedido muito urgente .                                                      Antes de mais nada, devo dizer aos senhores que nada tenho contra a destruição de tênis, ou de bonecas Barbie, ou de qualquer coisa que tenha sido pirateada. Afinal, a marca é dos senhores, e quem usa essa marca indevidamente sabe que está correndo um risco. Destruam, portanto. Com a máquina, sem a máquina, destruam. Destruir é um direito dos senhores. Mas, por favor, reservem um par, um único par desses tênis que serão destruídos para este que vos escreve. Este pedido é motivado por duas razões: em primeiro lugar, sou um grande admirador da marca Nike, mesmo falsificada. Aliás, estive olhando os tênis pirateados e devo confessar que não vi grande diferença deles para os verdadeiros.                          
     Em segundo lugar, e isto é o mais importante, sou pobre, pobre e ignorante. Quem está escrevendo esta carta para mim é um vizinho, homem bondoso. Ele vai inclusive colocá-la no correio, porque eu não tenho dinheiro para o selo. Nem dinheiro para selo, nem para qualquer outra coisa: sou pobre como um rato. Mas a pobreza não impede de sonhar, e eu sempre sonhei com um tênis Nike. Os senhores não têm ideia de como isso será importante para mim. Meus amigos, por exemplo, vão me olhar de outra maneira se eu aparecer de Nike. Eu direi, naturalmente, que foi presente (não quero que pensem que andei roubando), mas sei que a admiração deles não diminuirá: afinal, quem pode receber um Nike de presente pode receber muitas outras coisas. Verão que não sou o coitado que pareço.Uma última ponderação: a mim não importa que o tênis seja falsificado, que ele leve a marca Nike sem ser Nike. Porque, vejam, tudo em minha vida é assim. Moro num barraco que não pode ser chamado de casa, mas, para todos os efeitos, chamo-o de casa.                                              
     Uso a camiseta de uma universidade americana, com dizeres em inglês, que não entendo, mas nunca estive nem sequer perto da universidade – é uma camiseta que encontrei no lixo. E assim por diante. Mandem-me, por favor, um tênis. Pode ser tamanho grande, embora eu tenha pé pequeno. Não me desagradaria nada fingir que tenho pé grande. Dá à pessoa uma certa importância. E depois, quanto maior o tênis, mais visível ele é. E, como diz o meu vizinho aqui, visibilidade é tudo na vida.
(Moacyr Scliar, cronista da  Folha de S. Paulo

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