terça-feira, 12 de novembro de 2013

ARCADISMO- parte II



O ARCADISMO

Objetivo: esta lição continua a abordar o estilo literário :arcadismo, mas com destaque para como este estilo se desenvolveu aqui no Brasil. Quais seus principais autores, como as ideias árcades influenciaram  a sociedade, principalmente a elite jovem, que ia buscar conhecimento  em Coimbra. Como estes ideais serviram de base para haver forças para ir contra as ideias do governo ao ponto de servir de base para a inconfidência mineira.



O ARCADISMO NO BRASIL(1768-1836)

No Brasil, o rompimento com estética  barroca começou com a Publicação de Obras, de Cláudio Manuel da Costa, em 1768. este movimento permaneceu como tendência literária até 1836, quando se inicia o Romantismo.

O Arcadismo também ficou marcado por dois aspectos centrais. O dualismo dos escritores brasileiros do século XVIII, que, ao mesmo tempo, seguiam os modelos culturais europeus e se interessavam pela natureza e pelos problemas específicos da colônia brasileira; e a influência das idéias iluministas sobre os escritores e intelectuais brasileiros, que resultou no movimento da Inconfidência Mineira e seus trágicos resultados: prisão, morte, exílio, enforcamento.

Como no Brasil não existiu uma Arcádia como em Portugal,a concentração do arcadismo brasileiro foi  principalmente em Vila Rica ( hoje Ouro Preto), Minas Gerais,onde um grupo de intelectuais se destacou na arte literária e na prática política,com grande participação na Inconfidência Mineira, seu aparecimento teve relação direta com o grande crescimento urbano verificado nas cidades mineiras do século XVIII, cuja base econômica era a extração de ouro. Este grupo era constituído por Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga,  Inácio José de Alvarenga Peixoto e outros.

O crescimento espantoso dessas cidades favorecia tanto a divulgação de ideias políticas quanto o florescimento de uma literatura cujos modelos os jovens brasileiros - foram buscar em Coimbra, já que a colônia não lhes oferecia cursos superiores. E, ao retornarem de Portugal, traziam consigo as ideias iluministas que faziam fermentar a vida cultural portuguesa à época das inovações políticas e culturais do ministro Marquês de Pombal, adepto de algumas ideias da Ilustração.

Essas ideias, em Vila Rica, levaram  vários intelectuais e escritores a desejarem  a independência do Brasil, principalmente após a repercussão da independência dos Estados Unidos da América        ( 1776). Tais sonhos culminaram na frustrada Inconfidência Mineira ( 1789).

Características do arcadismo no Brasil:

- apego aos valores da terra: a simplicidade na poesia e a idéia de abolir as inutilidades( inutilia truncat) foram os objetivos dos arcades brasileiros. Como a concentração foi em Minas Gerais, nasce um nativismo que incorporou os valores da terra ao ideário da estática bucólica, em alta no arcadismo.

- Incorporação do elemento indígena: a valorização do índio foi destaque  nesta época, era o reflexo do “bom selvagem”, de Rousseau, onde a natureza faz o homem feliz e bom, mas a sociedade o corrompe.

- Sátira política:  um exemplo foi Cartas Chilenas, onde é bem clara a sátira política aos tempos difíceis da exploração portuguesa e à corrupção dos governos coloniais.

Os árcades e a Inconfidência:

Os escritores árcades mineiros tiveram participação direta no movimento da Inconfidência Mineira. Chegados de Coimbra com idéias enciclopedistas e influenciados pela independência dos EUA, divulgaram os sonhos de um Brasil independente e contribuíram para a organização do grupo inconfidente. Esses escritores eram Tomás Antônio Gonzaga, Alvarenga Peixoto e Cláudio Manuel da Costa.



Do grupo, apenas um homem não tinha a mesma formação intelectual dos demais nem era escritor: o alferes Tiradentes (dentista prático), maçom e simpatizante dos ideais iluministas.

Com a traição de Joaquim Silvério dos Reis, que devia vultosas somas ao governo português, o grupo foi preso. Todos, com exceção de Tiradentes, negaram sua participação no movimento. Cláudio Manuel da Costa, segundo versão oficial, suicidou-se na prisão antes do julgamento.

No julgamento, vários inconfidentes foram condenados à morte por enforcamento, dentre eles Tiradentes e Alvarenga Peixoto. Tomás Antônio Gonzaga e outros foram condenados ao exílio temporário ou perpétuo. Tiradentes assumiu para si a responsabilidade da liderança do grupo.

No dia 20 de abril de 1792, foi comutada a pena de todos os participantes, excluindo Tiradentes, enforcado no dia seguinte. Seu corpo foi esquartejado e exposto por Vila Rica; seus bens, confiscados; sua família, amaldiçoada por quatro gerações; e o chão de sua casa foi salgado, para que dele nada mais brotasse.

CLÁUDIO MANUEL DA COSTA:

Cláudio Manuel da Costa ( 1729 - 1789), também conhecido pelo pseudônimo pastoral de Glauceste Satúrnio, nasceu em Mariana, Minas Gerais, e, depois de estudar no Brasil com os jesuitas, completou seus estudos em Coimbra, onde se formou advogado. Em Portugal, tomou contato com as renovações da cultura portuguesa empreendidas por Pombal e Verney. Ali também conheceu as novidades literárias trazidas pela Arcádia Lusitana.

De volta ao Brasil, Cláudio Manuel da Costa exerceu em Vila Rica a carreira de advogado e administrador. Sua carreira de escritor teve início com a publicação de Obras Poéticas. Em 1789, foi acusado de envolvimento na Inconfidência Mineira. Encontrado morto na prisão , a alegação oficial para a sua morte foi o suicídio.

Com ampla formação cultural, Cláudio liderou o grupo de escritores árcades mineiros e soube dar continuidade apesar das limitações da colônia, a tradição de poetas clássicos. Seus sonetos apresentam notável afinidade com a lírica de Camões.

O poeta cultivou  a poesia lírica e a épica. Na lírica tem destaque o tema de desilusão amorosa.

Na épica, Cláudio escreveu Vila Rica, poema inspirado nas epopéias clássicas, que trata da penetração bandeirante, da descoberta da minas, da fundação de Vila Rica e de revoltas locais. Suas obras podem ser melhor entendidas se forem analisadas do seguinte modo:

Poesia lírica:

  • uma poesia que serviu de transição entre o Barroco e o Arcadismo.
  • no  Arcadismo, Cláudio Manuel da Costa demonstra o pastoralismo como uma renúncia à visão religiosa de mundo.
  • Em suas Obras, pelo fato da  paisagem não ser campestre há uma  quebra das convenções do período, ele apresenta cenários dominados por pedras, rochas, grutas e penhascos, indicando as suas raízes mineiras. Pois ele recorre a fato que lembra a paisagem mineira.

Tomás Antônio Gonzaga

Tomás Antônio Gonzaga nasceu em Portugal( Porto, 11/08/1744) e morou em Salvador, Bahia, entre os 7 e os 17 anos de idade.  Formou-se em Direito em Coimbra e permaneceu lá, até 1782, quando foi nomeado ouvidor( juiz) de Vila Rica e retornou ao Brasil. Logo tornou-se amigo de Cláudio Manuel da Costa, onde foi influenciado para a produção poética. Sua obra  lírica de maior destaque foi: Marília de Dirceu (um conjunto de liras).Esta poesia foi tipicamente árcade, visto que estava presa aos esquemas bucólicos e pastoris. Nesta obra Dirceu , o pastor, é também, um funcionário público, juiz, quarentão, que amava uma moça de uns 17 anos, e com o sonho da estabilidade de um lar burguês cheio de filhos. A obra foi escrita em três partes que correspondem a momentos históricos diferentes na vida do poeta. A I parte em liberdade, onde predominam as convenções neoclássicas, como os cortejos amorosos de pastores, as cançonetas anacreônicas, o locus amoenus, e as referências mitológicas. O pastor faz a corte à pastora Marília e tenta convence-la da felicidade no casamento. Também ocorre a referência ao tema carpe diem, onde aparece a preocupação de Gonzaga com a própria idade. A II na prisão, é bem notada devido as referências biográficas, como : o cárcere, o processo judicial, o medo, a perspectiva da morte, a solidão, e o sentimento de injustiça. E a III provavelmente logo após o degredo para a África. A expressão sentimental da obra dá-se, na maior parte das liras. em alguns momentos das partes II e III, o autor escapa dos padrões árcades e desabafa a sua dor, o sentimento de medo do futuro e da morte e, sobretudo, a saudade de Marília. Nestes momentos, as liras adquirem um caráter pré-romântico.


“ Eu tenho um coração maior que o mundo!
   Tu, formosa Marília, bem o sabes:
       Um coração...,e basta
      Onde tu mesma cabes;”

LIRA IV
“ Marília, teus olhos
são réus, e culpados
que sofra, e que beije
 os ferros pesados
de injustos Senhor.
   Marília, escuta
   Um triste pastor.
Mal vi teu rosto,
 O sangue geluo-se,
A língua prendeu-se,
Tremi, e mudou-se
Das faces a cor.
     Marília, escuta
     Um triste pastor.” 



Ele também teve destaque com uma obra satírica, onde  sob pseudônimo de Critilo, satirizou os desmandos do governador de Minas Gerais, ou seja, faz ataques diretos ao despotismo do  Fanfarrão Minésio, em Cartas Chilenas.

FREI SANTA RITA DURÃO

Uma de suas obras de destaque foi: Caramuru

Tema: A glorificação do colonizador branco e agente da catequese católica, Diogo Álvares Corrêia, que maravilhou os índios com um tiro de arcabuz na Bahia do século XVI, casando-se com a filha do cacique, Paraguçu, e passando a viver entre eles. Outros aspectos.

Louvação do índio que se converte à religião do dominador luso e o auxilia na conquista da terra.

A cena mais famosa da epopéia é a morte da índia Moema, após a partida para a França de Diogo Álvares e sua noiva, Paraguaçu. Moema vai nadando atrás do navio até ser tragada pelas ondas. 

Obs. Há nesta epopéia uma forte influência de Os Lusíadas, de Camões.

Nenhum comentário:

Postar um comentário