A nova carta de Pero
Vaz de Caminha
Autor: Paulo D'Angelo
Olá, meu amado Rei, aqui quem fala é o Pero
Vaz. Está a me ouvir bem?
Peguei emprestado o celular de um nativo
aqui da nova terra. Tudo bem, Capitão Pedro está a mandar um
abraço. Chegamos na terça, 21 de abril, mas deixei para ligar no domingo
porque a ligação é mais barata. É, aqui tem dessas coisas. Os
nativos ficaram espantados com a nossa chegada por mar, não achavam que éramos
deuses, Majestade. Acharam que éramos loucos de pisar em um mar tão sujo.
A ligação está boa? Pois é, essa
terra é engraçada. Tem telefonia celular digital; automóveis importados;
acesso gratuito à Internet, mas ainda tem gente que morre de malária e
está cheia de criança barriguda de tanto verme. É meio complicado
explicar.
Se já encontramos o chefe?
Olha Rei, tá meio complicado. Aqui tem
muito cacique para pouco índio.
Logo que chegamos a Porto Seguro tinha um
cacique lá que dizia que fazia chover, que mandava prender e soltar
quem ele quisesse. É um cacique bravo mesmo... Mais para o Sul
encontramos outra tribo, uma aldeia maravilhosa e muito festiva, com
lindas nativas quase nuas.
Seguindo em direção ao Sul, saímos do litoral e adentramo-nos ao planalto. Lá encontramos uma tribo muito grande. A dos índios Sampa. Conhecemos seu cacique, que tinha apito, mas que não apitava nada, coitado. Dizem até que ele apanha da mulher. O senhor está rindo, Majestade? Juro que é verdadeiro o meu relato. Como vossa Majestade pode perceber é uma terra fácil de colonizar, pois os nativos não falam a mesma língua.
Sim, são pacíficos sim. É só verem um côco no chão para eles começarem a chutá-lo e esquecerem-se da vida. Sabem, sabem ler, mas não todos. A maioria lê muito mal e acredita em tudo que é escrito. Vai ser moleza, fica frio.
Parece que há um "Cacicão Geral", mas ele quase não é visto. O homem viaja muito. Dizem que se a intenção for evitar encontrá-lo, é só ficar sentado no trono dele.
Engraçado mesmo é que a "indiaiada" trabalha a troco de banana. É banana! Todo mês eles recebem no mínimo 151 bananas.
Seguindo em direção ao Sul, saímos do litoral e adentramo-nos ao planalto. Lá encontramos uma tribo muito grande. A dos índios Sampa. Conhecemos seu cacique, que tinha apito, mas que não apitava nada, coitado. Dizem até que ele apanha da mulher. O senhor está rindo, Majestade? Juro que é verdadeiro o meu relato. Como vossa Majestade pode perceber é uma terra fácil de colonizar, pois os nativos não falam a mesma língua.
Sim, são pacíficos sim. É só verem um côco no chão para eles começarem a chutá-lo e esquecerem-se da vida. Sabem, sabem ler, mas não todos. A maioria lê muito mal e acredita em tudo que é escrito. Vai ser moleza, fica frio.
Parece que há um "Cacicão Geral", mas ele quase não é visto. O homem viaja muito. Dizem que se a intenção for evitar encontrá-lo, é só ficar sentado no trono dele.
Engraçado mesmo é que a "indiaiada" trabalha a troco de banana. É banana! Todo mês eles recebem no mínimo 151 bananas.
Não é piada, Majestade! É sério! Só
vindo aqui prá ver.
Olha, preciso desligar.
Olha, preciso desligar.
O rapaz que me emprestou o telefone
celular precisa fazer uma ligação. Ele é comerciante. Disse que
precisa avisar ao povo que chegou um novo carregamento de farinha.
Engraçado... eles ficam tão contentes em trabalhar... A cada
mercadoria que chega, eles sobem o morro
e soltam rojões. É uma terra muito rica, Majestade.
Acho que desta vez acertamos em cheio. Isso aqui ainda vai ser o país do futuro...
Acho que desta vez acertamos em cheio. Isso aqui ainda vai ser o país do futuro...
Autor: Paulo D'Angelo, publicitário, reescreveu a Carta de Caminha e ganhou o concurso "Crônica do Ouvinte" promovido pela Rádio Bandeirantes.
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