Índice
No século XVI, a maioria das
obras escritas, no Brasil, não foram feitas por brasileiros, mas sobre o Brasil
por visitantes, chamada Literatura de Informação ou de Viagem. A esta
literatura soma-se outra chamada Literatura Jesuítica, relato das incursões
religiosas para catequização dos índios.
O
Quinhentismo divide-se em:
- Lit. Informativa - conquista material para o governo português
- Lit. Jesuítica - conquista espiritual, num movimento resultante da Contra-Reforma
Referências históricas
- capitalismo mercantil e grandes navegações
- auge do Renascimento
- ruptura na Igreja (Reforma, Contra-Reforma e Inquisição)
- colonização no Brasil a partir de 1530
- literatura jesuítica a partir de 1549
Literatura de Informação, de
Viagem
ou dos Cronistas
Destinava-se a informar os
interessados sobre a "terra nova", sua flora, sua fauna, sua gente. A
intenção dos viajantes não era fazer literatura, mas sim uma caracterização da
terra. Através dessa literatura se tem idéia do assombro europeu diante de um
mundo tropical, totalmente diferente e exótico.
Além da descrição, os textos
revelam as idéias dos portugueses em relação à nova terra e seus habitantes.
Características
- textos descritivos em linguagem simples
- muitos substantivos seguidos de adjetivos
- uso exagerado de adjetivos empregados, quase sempre, no superlativo
Autores
Pero Vaz Caminha
Autor da
"certidão de nascimento" do Brasil, onde relatava ao rei de Portugal
a "descoberta" da Terra de Vera Cruz (1500)
Pero Lopes de Souza
Diário da
navegação da armada que foi à terra do Brasil em 1500 (1530)
Pero Magalhães Gândavo
Tratado
da terra do Brasil e A história da Província de Santa Cruz a que vulgarmente
chamam Brasil (1576)
Gabriel Soares de Sousa
Tratado
descritivo do Brasil (1587)
Ambrósio Fernandes Brandão
Diálogo
das grandezas do Brasil (1618)
Frei Vicente do Salvador
História
do Brasil (1627)
Pe. Manuel da Nóbrega
Diálogo
sobre a conversão dos gentios (1558)
Pe. José de Anchieta
Obra
vasta a ser tratada com mais detalhes a seguir
Literatura Jesuítica
Junto às expedições de
reconhecimento e colonização, vinham ao Brasil os jesuítas, preocupados em
expandir a fé católica e catequizar os índios. Eles escreveram principalmente a
outros missionários sobre os costumes indígenas, sua língua, as dificuldades de
catequese etc.
Esta literatura compõe-se de
poesias de devoção, teatro de caráter pedagógico e religioso, baseado em textos
bíblicos e cartas que informavam o andamento dos trabalhos na Colônia.
Autores
José de Anchieta
Papel de destaque na fundação de
São Paulo e na catequese dos índios. Iniciou o teatro no Brasil e foi
pesquisador do folclore e da língua indígena.
Produção diversificada, sendo
autor de poesias líricas e épicas, teatro, cartas, sermões e uma gramática do
tupi-guarani.
De sua obra destacam-se: Do Santíssimo
Sacramento, A Santa Inês (poesias) e Na festa de São Lourenço, Auto da Pregação
Universal (autos).
Usava em seus textos uma
linguagem simples, revelando acentuadas características de tradição medieval
portuguesa.
Suas poesias estão impregnadas de
idéias religiosas e conceitos morais e pedagógicos. As peças de teatro lembram
a tradição medieval de Gil Vicente e foram feitas para tornar vivos os valores
e ideais cristãos. Nas peças, ele está sempre preocupado em caracterizar os
extremos como Bem e Mal, Anjo e Diabo, característica pré-barroca.
Obras
A carta de Caminha faz um relato dos dias passados
na Terra de Vera Cruz (nome antigo do Brasil) em Porto Seguro, da primeira
missa, dos índios que subiram a bordo das naus, dos costumes destes e da aparência
deles (com uma certa obsessão por suas "vergonhas"), assim como fala
do potencial da terra, tanto para a mineração (relata que não se achou ouro ou
prata, mas que os nativos indicam sua existência), exploração biológica (a
fauna e a flora) e humana, já que fala sempre em "salvar" os nativos,
convertendo-os.
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"Neste
mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! A saber,
primeiramente de um grande monte, muito alto e redondo; e de outras serras
mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos; ao qual monte
alto o capitão pôs o nome de O Monte Pascoal e à terra A Terra de Vera
Cruz!"
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--Carta de Caminha
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"Viu
um deles [índios] umas contas de rosário, brancas; acenou que lhas dessem,
folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço. Depois tirou-as e enrolou-as
no braço e acenava para a terra e de novo para as contas e para o colar do
Capitão, como dizendo que dariam ouro por aquilo. Isso tomávamos nós por
assim o desejarmos"
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--Carta de Caminha
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"Parece-me
gente de tal inocência que, se homem os entendesse e eles a nós, seriam logo
cristãos, porque eles, segundo parece, não têm nem entendem em nenhuma crença"
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--Carta de Caminha
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"Águas
são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar,
dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem. Porém o melhor fruto, que dela
se pode tirar me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a
principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar"
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--Carta de Caminha
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A História da Província Santa
Cruz a que vulgarmente chamam Brasil é o relato do viajante Pero de Magalhães Gândavo
em sua viagem pelo Brasil. Tal qual no Tratado da Terra do Brasil, Gândavo
descreve a terra, flora e a fauna. História, propriamente dita, há pouca em seu
relato. Existe a narrativa do descobrimento e menções a vários ocorridos, como
a expulsão dos franceses de São Sebastião (cidade do Rio de Janeiro hoje em
dia) e a morte do filho de Mem de Sá, assim como fala-se dos costumes e das
guerras de povos indígenas. É nesta parte que se destaca o forte preconceito do
autor, que sustenta que os índios são maus e que os Portugueses deveriam
salvá-los
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"Não
acho que preciso, mas vou lembrar a todos que os portugueses e espanhóis
quando vieram para ca cometeram tantas e tão horríveis atrocidades motivados
por ganância cega que a antropofagia dos nativos parece tão horrível quanto
esmagar uma formiga."
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--História da Província Santa Cruz, Pero de
Magalhães Gândavo
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"Esta
planta é mui tenra e não muito alta, não tem ramos senão umas fôlhas que
serão seis ou sete palmos de comprido. A fruita se chama banana. Parecem-se
na feição com pepinos e criam-se em cachos. (...) Esta fruta é mui saborosa,
e das boas, que há na terra: tem uma pele como de figo (ainda que mais dura)
a qual lhe lançam fora quando a querem comer: mas faz dano à saúde e causa
fevre a quem se demanda dela"
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--História da Província Santa Cruz, Pero de
Magalhães Gândavo
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"Teme a Deus, juiz tremendo, que em má hora te socorra, em Jesus tão só vivendo, pois deu sua vida morrendo para que tua morte morra." |
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--Auto de São Lourenço, Pe José de Anchieta
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Não há cousa segura. Tudo quanto se vê se vai passando. A vida não tem dura. O bem se vai gastando. Toda criatura passa voando. Em Deus, meu criador, está todo meu bem e esperança meu gosto e meu amor e bem-aventurança. Quem serve a tal Senhor não faz mudança. Contente assim, minha alma, do doce amor de Deus toda ferida, o mundo deixa em calma, buscando a outra vida, na qual deseja ser toda absorvida. Do pé do sacro monte meus olhos levantando ao alto cume, vi estar aberta a fonte do verdadeiro lume, que as trevas do meu peito todas consume Correm doces licores das grandes aberturas do penedo. Levantam-se os errores, levanta-se o degredo e tira-se a amargura do fruto azedo! |
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--Em Deus, meu criador, José de Anchieta
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"Há
no Brasil grandíssimas matas e árvores agrestes, cedros, carvalhos,
vinháticos, angelins e outras não conhecidas em Espanha, de madeiras
fortíssimas para se poderem fazer delas fortíssimos galeões (...). Mas os
índios naturais da terra as embarcações de que usam são canoas de um só pau,
que lavram a fogo e a ferro (...)"
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--História da Custória do Brasil,
Frei Vicente do Salvado
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