TORPEDOS - Moacyr Scliar
Apesar do
fracasso dos quatro vestibulandos que haviam tentado fraudar a prova mediante
mensagens pelo celular, ela decidiu fazer a mesma coisa. Em primeiro lugar,
porque morava numa cidade muito menor que o Rio, na qual as medidas de
segurança não eram tão rigorosas. Depois, não recorreria a quadrilha nenhuma,
coisa que, segundo imaginava, tornava a operação vulnerável. Em terceiro lugar,
não tinha outra opção: não sabia quase nada, e era certo que seria reprovada.
Por último, havia uma coincidência favorável: estava com o antebraço esquerdo
engessado. Nada preocupante, e na verdade ela até poderia ter tirado o gesso,
mas não o fizera e agora contava com um ótimo esconderijo para o celular. Quem
mandaria o gabarito? O namorado, claro. Rapaz inteligente (já estava cursando a
faculdade), ele só teria de perguntar as questões para alguém que tivesse
terminado a prova e enviar o gabarito por torpedo. Quando ela fez a proposta ao
rapaz, ele pareceu-lhe um tanto relutante, incomodado mesmo. E no dia do
vestibular ela descobriu por quê. Quarenta minutos depois de iniciada a prova,
ela recebeu o tão esperado torpedo. Para sua surpresa, não continha o gabarito,
e sim uma mensagem: "Sinto muito, mas não posso continuar namorando uma
pessoa tão desonesta. Considere terminada a nossa relação.
PS: boa
sorte no vestibular". Com o que ela foi obrigada a concluir: tão
importante quanto o torpedo é aquele que dispara o torpedo.
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