Eu sou
muito pequeno para ter opinião, para pedir. Mesmo assim, mamãe, por favor, me
ouça. Eu já estou tão bem aqui dentro, o meu coração já bate, sou uma vida que
pulsa dentro de você.
Hoje eu
ouvi você conversando com um homem, acho que era meu pai. Vocês discutiram
muito, gritavam, eu até me encolhia de medo. Ouvi você dizendo que não poderia
me colocar no mundo porque eu era um obstáculo na vida de vocês. O homem disse
que a melhor solução era me abortar, que eu era pequeno e insignificante. Você
começou a chorar e ele saiu batendo a porta. Fiquei triste porque gosto de
você, mesmo você querendo me matar. Sou pequeno, mas não insignificante, tenho
vida. Só não estou totalmente formado, mas todo mundo foi assim um dia. Os pais
de vocês sonharam com o momento em que iriam vê-los, amaram vocês antes de
nascer. Eu também quero amor e atenção, pois eu estou aqui porque vocês
quiseram. Sou fruto da irresponsabilidade de vocês e quero ter o direito de
viver.
Estou
sentindo você me acariciando, sei que me ama. Por favor, mude de idéia!
Bem, acho
que mudou, porque já passou algum tempo e eu estou bem maior. Às vezes, sinto que
você está triste; outras vezes, está alegre. Uma certeza eu já tenho: você vai
me dar à luz. Acho que chegou o momento, porque eu estou ouvindo muitas vezes.
Enfim, mamãe, depois de nove meses eu vou lhe conhecer. Eu estou saindo de dentro
de você devagar. Um homem me deu três tapinhas no bumbum e eu chorei.
Agora eu te
entendo. Olhando para o seu rosto jovem
e cansado, reconheço que você sofreu muito. Mesmo assim teve responsabilidade e
enfrentou tudo sozinha. Você permitiu que se realizasse, mais uma vez, o milagre
da vida. É por isso que eu te amo agora e te amarei sempre.
(Luzaine Alves Coelho, 13 anos -
07/04/96)
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